22.8.06

>> Serra diz que péssimo desempenho de alunos paulistas se deve à migração.

O candidato do PSDB ao governo paulista, José Serra, atribuiu o péssimo desempenho dos alunos do Estado no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) às altas taxas de migração. Durante entrevista ao SPTV, o ex-prefeito voltou a dizer que vai colocar dois professores em cada sala de aula do ensino fundamental.
Diferentemente dos Estados do sul, São Paulo tem muita migração e este é um problema. Houve expansão quantitativa no ensino para atender a demanda, agora temos que focar na qualidade –, afirmou. Pela última avaliação do Ministério da Educação, o Prova Brasil, no fim do ano passado, a quarta série do ensino municipal de São Paulo está entre as sete piores do País na comparação com a das demais capitais.

Na média, os alunos não obtiveram a metade do total de pontos, juntamente com estudantes de vários Estados do nordeste. Serra não explicou como vai arrumar recursos para dobrar a folha de pagamento dos professores, que custa hoje cerca de R$ 9 bilhões ao Estado, para contratar dois professores por sala para melhorar a qualidade do ensino. – A segunda professora é estudante universitária de Pedagogia, de Letras. É uma assistente com salário inicial. A prefeitura já fez em quase metade das escolas, isto é perfeitamente viável do ponto de vista financeiro –, disse.

Na semana passada, o candidato pelo PSDB à presidência, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin, errou, durante entrevista ao Jornal Nacional, os dados sobre educação em São Paulo. Alckmin confundiu o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) com o Prova Brasil e afirmou que São Paulo é o primeiro Estado do país pelo Saeb, que avalia o sistema de educação. O Saeb era o sistema usado para avaliar a educação básica até 2003. Desde 2005, o Ministério da Educação adotou o Prova Brasil, que revela que o Estado de São Paulo não está em primeiro lugar, como disse o ex-governador. Os resultados das duas provas não podem ser comparados.

Na entrevista desta quarta, Serra disse ainda que não manterá o secretário de Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, no cargo, caso seja eleito. – Estou disputando a eleição para ganhar, não estou nomeando secretários. Vão ser novas equipes em todas as áreas, mas isto só vou fazer depois de ganhar, porque dá azar nomear antes de ganhar eleição –, disse Serra. O candidato afirmou que houve avanço na segurança durante os doze anos de administração tucana no Estado, mas que novos problemas, como a superpopulação carcerária e o desenvolvimento do crime organizado, apareceram. – A polícia passou a prender mais. Quando Covas entrou no governo, havia 40 mil presos. Hoje temos mais de 150 mil.

A taxa de homicídios caiu pela metade. Mas novos problemas apareceram. É sempre assim: quando se resolve um problema aparecem outros, superpopulação carcerária e desenvolvimento do crime organizado nas prisões - afirmou. Serra desconversou quando o apresentador Chico Pinheiro perguntou se ele ficaria no cargo até o final do mandato. - (O ano de) 2010 está muito longe, nem você sabe onde vai estar. Mas, o que eu vou fazer até o final do mandato é trabalhar bastante para corresponder às expectativas das pessoas de São Paulo, caso eu seja escolhido — afirmou Serra que, durante a campanha para prefeito de São Paulo, em 2004, prometeu cumprir o mandato municipal até o fim. Serra afastou-se do cargo no primeiro semestre para concorrer ao governo do Estado.

>> Saresp será feito por amostragem.

Exame do governo estadual deixará de ser feito por todos os alunos para economizar recursos em 2007

O Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) não será mais feito com todos os alunos da rede, como ocorria desde 2003. Na semana passada, como informou o Estado, o governo estadual cancelou a prova deste ano para fazer reformulações. "Não vejo mais razão para o exame ser censitário, em todas as séries, já que existe a Prova Brasil e o MEC a faz de graça para as redes", disse a secretária do Estado de Educação, Maria Lúcia Vasconcelos.

Ela se refere à prova que foi feita pela primeira vez no ano passado por 3,3 milhões de alunos de cerca de 5 mil escolas públicas de todo o País. Por decisão da secretaria na época, São Paulo foi o único Estado em que apenas uma amostra dos estudantes participaram e, por isso, não teve suas notas divulgadas escola por escola. Maria Lúcia hoje lamenta essa decisão da gestão passada. "Brigas de partido não podem influenciar na educação. A avaliação é nacional, São Paulo tem de participar."

A idéia da secretária é de que o Saresp complemente a Prova Brasil. "Poderíamos avaliar outras áreas, como ciências, por exemplo." O Saresp, até 2005, examinou todos os alunos da rede, de todas as séries, em português e matemática. Custou cerca de R$ 9 milhões. Já a Prova Brasil custa cerca de R$ 55 milhões e avalia todos os alunos da 4ª e 8ª séries do País também em português e matemática. As séries foram escolhidas por marcarem o fim de cada ciclo do ensino fundamental.

Se o próximo secretário da educação, em 2007, não mudar as determinações deixadas por Maria Lúcia, o Saresp passará a ser feito com apenas algumas séries e com acompanhamento dos mesmos alunos na avaliação. Ela já havia sido feita por amostragem entre 1996 e 2002.
Segundo a especialista em avaliação da Fundação Cesgranrio, Nilma Fontanive, a avaliação não deixará de poder ser comparada às realizadas em anos anteriores se voltar a ser feita por amostragem. Isso porque a metodologia usada permite que sejam usados os mesmos itens e a mesma escala de dificuldade em todas as avaliações, sejam universais ou por amostra. Nilma foi a responsável tanto pelo Saresp quanto pela Prova Brasil na Cesgranrio, que ganhou as licitações para realizar os exames.

"A diferença entre fazer por amostra e universal está no objetivo do gestor", diz ela. Segundo Nilma, a avaliação com todos os alunos dá resultados de cada escola, de cada série, e assim é possível haver uma orientação precisa do que o governo pode fazer para melhorar. Já a amostragem traz um monitoramento da rede como um todo, mas também permite identificar os pontos fracos e fortes.

Segundo Maria Lúcia, com a participação de menos alunos no novo Saresp os custos se reduzem a um terço. Por isso, a secretária ainda estuda se o exame voltará a ser anual ou se será bienal.

>> Enem: nota já não é determinante para obter vaga.

Universalização da prova, feita por mais de 85% dos candidatos que prestam os principais vestibular de São Paulo, faz com que sua influência nos processos seletivos tenha se tornado menor. Segundo informações do jornal Folha de S.Paulo, um estudo desenvolvido pela Vunesp mostra que apenas 3,42% dos ingressantes na Unespe neste ano seriam trocados se o exame não entrasse no cálculo.

De acordo com Fernando Prado, diretor acadêmico da Fundação Vunesp, o Enem contribuiu mais para elevar um pouco as notas dos candidatos que para alterar a lista de aprovados. A concorrida carreira de medicina, por exemplo, que não teve nenhum classificado sem Enem entre as 90 vagas oferecidas no campus de Botucatu, incluiria cinco candidatos desta categoria.

Prado diz que quem consegue uma nota alta no Enem não tem vantagem direta sobre os seus concorrentes no vestibular, apenas sobre quem tirou uma nota menor no Exame. O melhor desempenho faz também com que a nota de corte aumente. No vestibular da Unicamp do último ano, a nota média da primeira fase foi de 56,4 para os candidatos sem Enem, e de 61,3 para os com Enem. Neste ano, são 3.731.925 os estudantes inscritos no Enem, número recorde e 24% maior que o de 2005.

>> Supletivos crescem 60%; cursos não são avaliados.

Sem uma avaliação sistemática da qualidade dos cursos, as matrículas nos supletivos, agora chamados de educação de jovens e adultos (EJA), cresceram 60,3% nos últimos oito anos no país. Uma das justificativas para isso é a pressão do mercado de trabalho. No mesmo período (97 a 2005), o número de alunos no básico regular aumentou apenas 4,75%.O crescimento ocorreu sem o acompanhamento de exames que possam gerar dados sobre qualidade e nível de aprendizado dos alunos.

O sistema regular é avaliado pela União desde 1995 por meio do Saeb.Para especialistas, o maior problema dos supletivos é a falta de preparo dos professores para lidar com um público mais velho e que trabalha. O próprio MEC reconhece que é preciso avançar nesse ponto. "Há espaço para um acompanhamento mais detalhado", afirmou à Folha o diretor do Departamento de Educação de Jovens e Adultos do ministério, Timothy Ireland.

Ele divide responsabilidades com Estados e municípios.Os supletivos atendem alunos maiores de 15 anos que não terminaram o ensino fundamental (até a oitava série) e com mais de 18 anos que não concluíram o médio.Pesquisadores confirmaram que faltam indicadores para avaliar os supletivos. Mas, pela análise das políticas adotadas e pelo contato com alunos e professores, eles afirmam que o sistema está com problemas."

O formato da escola para jovens e adultos não atende às necessidades básicas de aprendizagem", disse Stela Piconez, docente da USP que coordena o Núcleo de Estudos sobre EJA e de Formação Permanente de Professores da universidade.Piconez afirma que a modalidade deveria ser desenhada para um perfil de aluno que é mais velho e que já trabalha. "Os temas não são relacionados ao cotidiano do trabalho, e a grade prevê cinco aulas diárias, o que é impossível para alguém que já trabalhou oito horas no dia."

O coordenador-geral da ONG Ação Educativa, Sérgio Haddad, aponta outro problema. "Não existe formação de EJA para os professores. Em muitas universidades, não há sequer uma disciplina sobre o tema", completa Haddad, que estudou a educação de adultos em seu mestrado e doutorado na USP. "O poder público encara o EJA como um favor, não como um dever", disse Hebe Tolosa, da Associação de Pais e Alunos das Escolas do Estado de SP.

Mesmo sem uma avaliação sistemática, 4,619 milhões de estudantes brasileiros estavam matriculados em supletivos no ano passado, de acordo com dados mais recentes.Essa etapa ganha importância principalmente porque cerca de 67 milhões de brasileiros com mais de 15 anos não terminaram o ensino básico, segundo dados do MEC.Apesar de as turmas de primeira a oitava série ainda ficarem com 73,5% do total das matrículas nos supletivos, foi no ensino médio que ocorreu a maior taxa de crescimento.

O número de alunos passou de pouco mais de 390 mil, em 1997, para 1,223 milhão em 2005 (veja quadro).A procura pode ser explicada não só pelo menor prazo para terminar os estudos (enquanto o ensino médio regular são três anos, o EJA pode ser feito em dois ou menos) mas também pela exigência do mercado de trabalho. Essa constatação é confirmada por quem atua na contratação de profissionais. "O nível mais baixo de exigência que temos é o ensino médio", afirmou a consultora de recursos humanos Meire Fujimoto, da Catho (consultoria de recolocação profissional).

A empresa oferece, hoje, 168 mil vagas --para nenhuma delas aceita-se apenas o ensino fundamental. Para quem possui só o ensino médio, diz Fujimoto, os salários são em média de R$ 500, para funções como vendedor ou para telemarketing.Haddad e Piconez lembram ainda que a procura aumentou porque há hoje mais concluintes no ensino fundamental, que foi praticamente universalizado na década passada