25.9.06

>> Fator cultural é determinante no ensino da matemática, diz estudo.

A matemática é a única disciplina em que os meninos ainda se saem melhor que as meninas no ensino brasileiro. Pesquisas acadêmicas mostram que o fator cultural vem sendo determinante na diferença, embora o quadro não seja exclusividade do País. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.


Apesar de ser uma situação comum nos 42 países avaliados pelo Pisa (exame da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico que analisa o desempenho de alunos), o Brasil se destaca na tabela comparativa porque aqui a diferença a favor dos meninos é a maior entre todos os países analisados. As meninas se saem melhor quase todas as outras disciplinas.
Esse quadro tem gerado estudos e debates no meio acadêmico do País, principalmente quando se discute se essas diferenças são fruto de aspectos culturais ou biológicos.

Um estudo da PUC-RJ, realizado pelos pesquisadores Márcia Andrade, Creso Franco e João Pitombeira de Carvalho, usou duas variáveis para tentar explicar o fenômeno: socioeconômicas e ambientais/culturais.
Na primeira hipótese, foi avaliado se o melhor desempenho não era causado pelo fato de muitos dos meninos mais pobres abandonarem a escola antes de completar o ensino médio, algo menos intenso entre meninas.

Ou seja, se menos garotos pobres concluem o ensino médio, a média de um exame feito pelos que conseguem chegar lá será maior por haver menos alunos em condições desfavoráveis, que puxariam a média para baixo. Os dados mostraram que a distância entre eles e elas diminuiu, mas, ainda assim, meninos se saíam melhor.


Na segunda hipótese, escolas que atendem crianças de baixo poder aquisitivo foram separadas das com nível socioeconômico mais alto. Neste quadro, foi constatado que a diferença entre os pobres persistia. No entanto, nas escolas para alunos de renda mais alta, meninos e meninas tiveram quase o mesmo desempenho. Os pesquisadores acreditam que, em ambientes como esse, as famílias apóiem e aceitem mais o interesse de meninas pela matemática.


Para o professor de neurofisiologia da USP Gilberto Xavier, o fator cultural realmente é o que mais interfere do desempenho. "O sistema nervoso se desenvolve a partir da cultura do ambiente, e provavelmente isso resulta da diferença de tratamento entre meninos e meninas".