Quase 1 milhão de estudantes, ou 25% dos inscritos, não compareceram; professores consideraram prova difícil.
Quase 1 milhão dos 3,7 milhões de inscritos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) não fizeram a prova ontem. A estimativa inicial do Ministério da Educação (MEC) é de que a abstenção na prova foi de 25%. A prova, realizada em mais de 800 cidades do País, deixou de ser considerada fácil por professores, como ocorreu nos últimos anos.Estudantes reclamaram de enunciados longos e professores afirmaram que foi preciso concentração para fazer as 63 questões e a redação.
Segundo o presidente do Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais (Inep/MEC), Reynaldo Fernandes, o exame teve a mesma orientação de outros anos. “O importante é que ele tenha uma boa capacidade de discriminação, não pode ser muito difícil nem muito fácil”, disse. Para ele, o número de faltas, que ainda será consolidado, foi “normal” e semelhante ao do ano passado. Por causa do grande número de inscritos, o governo concedeu 15 minutos de tolerância para o início da prova, que havia sido marcado para as 13 horas.
Mesmo assim, houve filas nos locais de exame e atrasos pelo País. Na Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), as filas começaram antes do meio dia e tomaram o quarteirão, mas todos conseguiram entrar antes de 13 horas. “Tinha que ler muito para responder uma pergunta simples, cansava demais”, disse Elvis Ramos de Oliveira, de 26 anos, jornaleiro, que fez a prova na capital. Ele participou do Enem para concorrer a uma vaga no Programa Universidade para Todos (ProUni), que estimula instituições privadas a conceder bolsas a estudantes pobres em troca de isenção fiscal.
O ProUni é considerado um dos motivos para a explosão no número de inscritos no Enem em 2005 - quando começou a funcionar - e neste ano. Só quem tem uma boa nota no exame pode concorrer à bolsa.Segundo alguns candidatos, a redação - que pedia um texto sobre leitura - foi a parte mais complicada da prova. “O tema era muito amplo, pouco objetivo”, disse Erika Mate de Figueiredo, de 20 anos. “Teve textos que eu não entendi, sobre meio ambiente”, completou a recepcionista Mariana dos Santos, de 19 anos, que fez o Enem em Porto Alegre.
Para Maria Lúcia Ferreira, os textos estavam “muito intricados”.“A prova tem ficado cada ano mais difícil”, disse a professora do Objetivo, Vera Lúcia da Costa Antunes. O Enem é interdisciplinar, com questões de múltipla escolha. Seu modelo, com muita interpretação de texto, é elogiado por educadores. A prova não é focada em conteúdo e sim em competências e habilidades.
No exame de ontem, os alunos precisavam interpretar textos de Carlos Drummond de Andrade e Oswald de Andrade. Havia gráficos sobre inflação e algumas questões sobre meio ambiente. Outras perguntas falavam sobre migrações internacionais e experiências de pedágios urbanos. Em Belo Horizonte, os candidatos reclamaram do enunciado das questões. “Você se perde na hora de ler”, disse Karem Kamal. Lorena Amanda Ventura, de 18 anos, contou que ficou tensa durante o exame porque se surpreendeu com a dificuldade. Em Manaus, os estudantes acharam a prova fácil.
ATRASOS
Na Universidade Nove de Julho (Uninove), na capital, vários candidatos se atrasaram. Carlos Eduardo Laino, de 25 anos, e seu irmão Emerson, chegaram às 13h16 ao prédio e não puderam entrar. “Saímos de casa às 9 horas e pegamos quatro ônibus”, disse Laino, que mora em Itapevi. Outra atrasada, a auxiliar de enfermagem Isabel Correia da Silva, de 40 anos, reclamou dos ônibus. “Fiquei mais de 20 minutos esperando no ponto.” A Prefeitura informou que não aumentou a frota de ônibus, que é reduzida aos domingos, por causa do Enem. Os participantes do Enem receberão suas notas entre 6 a 17 de novembro.
28.8.06
>> Cursos fecham e deixam bolsista à deriva.
Beneficiados pelo Prouni desistiram e até trocaram de área porque cursos fecharam por dificuldades financeiras e eles não encontram instituições que aceitem mais bolsistas. "Vou prestar vestibular de novo e tentar pagar. Pelo Prouni, não dá", reclama Fernanda Coutinho de Abreu, 19, ex-aluna do curso de pedagogia da Faculdade Anglo Latino (São Paulo), que busca outra instituição desde o início do ano.
Sua colega Alexandra Ferreira Solito, 19, teve melhor sorte. Após quase seis meses, a Uninove aceitou sua bolsa. "Ficamos desamparados, o MEC dizia que não podia ajudar." Andreza de Ávila, 19, teve de trocar jornalismo por direito, carreira oferecida pela Unibero. "As universidades dizem que já atendem ao número de bolsas."
O diretor do Departamento de Modernização e Programas da Educação Superior, Celso Carneiro Ribeiro, nega essas dificuldades e diz que, desde que o programa foi criado, cerca de 16 mil já se transferiram. Ele diz que o ministério não pode atuar quando alunos estão matriculados em instituições que não fecharam oficialmente.
Sua colega Alexandra Ferreira Solito, 19, teve melhor sorte. Após quase seis meses, a Uninove aceitou sua bolsa. "Ficamos desamparados, o MEC dizia que não podia ajudar." Andreza de Ávila, 19, teve de trocar jornalismo por direito, carreira oferecida pela Unibero. "As universidades dizem que já atendem ao número de bolsas."
O diretor do Departamento de Modernização e Programas da Educação Superior, Celso Carneiro Ribeiro, nega essas dificuldades e diz que, desde que o programa foi criado, cerca de 16 mil já se transferiram. Ele diz que o ministério não pode atuar quando alunos estão matriculados em instituições que não fecharam oficialmente.
>> ProUni oferece vagas em 237 cursos com notas baixas no Enade.
O Programa Universidade para Todos (ProUni) ofereceu, nos últimos dois anos, vagas em 237 cursos de ensino superior que tiveram os piores conceitos no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade). Segundo o jornal Folha de S.Paulo, eles representam 48% dos 492 cursos com notas 1 e 2, as mais baixas do Enade.
Pela lei do ProUni, os cursos com baixo rendimento só poderão ser fechados se tiverem três desempenhos insatisfatórios no Sinaes, sistema de avaliação do ensino superior do qual o Enade faz parte e que conta também com visita de comissões às universidades.
Para participar do ProUni, as instituições usufruem de isenção de tributos. Em 2005, o governo deixou de arrecadar R$ 105,6 milhões e beneficiou 112.275 alunos em 1142 instituições.
Para especialistas, o governo federal deveria ser mais criterioso para evitar desperdícios. "Esse recurso poderia ser destinado às instituições públicas", diz Romualdo Portela, professor de políticas públicas da Faculdade de Educação da USP.
O ministro da Educação, Fernando Haddad, diz que o governo adotou medidas para melhorar a qualidade não só dos cursos do ProUni como de todo o ensino superior. A avaliação feita pelo jornal também detectou 196 cursos do Prouni que tiveram os conceitos 4 e 5 no Enade, os mais altos da Exame.
O número de vagas do Prouni é quase o mesmo que o oferecido pelos vestibulares de todas as universidades federais do país - cerca de 120 mil ao ano.
Pela lei do ProUni, os cursos com baixo rendimento só poderão ser fechados se tiverem três desempenhos insatisfatórios no Sinaes, sistema de avaliação do ensino superior do qual o Enade faz parte e que conta também com visita de comissões às universidades.
Para participar do ProUni, as instituições usufruem de isenção de tributos. Em 2005, o governo deixou de arrecadar R$ 105,6 milhões e beneficiou 112.275 alunos em 1142 instituições.
Para especialistas, o governo federal deveria ser mais criterioso para evitar desperdícios. "Esse recurso poderia ser destinado às instituições públicas", diz Romualdo Portela, professor de políticas públicas da Faculdade de Educação da USP.
O ministro da Educação, Fernando Haddad, diz que o governo adotou medidas para melhorar a qualidade não só dos cursos do ProUni como de todo o ensino superior. A avaliação feita pelo jornal também detectou 196 cursos do Prouni que tiveram os conceitos 4 e 5 no Enade, os mais altos da Exame.
O número de vagas do Prouni é quase o mesmo que o oferecido pelos vestibulares de todas as universidades federais do país - cerca de 120 mil ao ano.
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